sexta-feira, 16 de março de 2018

BARROU ZICO E PERDEU PARA O ALCOOL


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Jorge Mendonça colocou Zico na reserva na Copa do Mundo de 1978. Em uma mesma edição do Campeonato Paulista, só marcou menos gols do que Pelé.

Mesmo com esse currículo, Jorge Mendonça foi abandonado. Foi abandonado pelo futebol quando estava se aposentando. Foi abandonado pela força de vontade quando não conseguiu enfrentar o alcoolismo e a depressão. Foi abandonado pelos seus clubes. E, pouco antes de sua morte, sua família também sofreu críticas por tê-lo abandonado. Seus filhos, porém, negam que isso tenha ocorrido. Este é o relato do martírio dos últimos anos de Jorge Mendonça.

A morte que veio em um sonho
 Eu tive um sonho muito ruim com o meu pai. Ele me pedia água e morria nos meus braços. O sonho me deixou pensando e liguei para o meu pai. Ele não me atendia. Fui até a casa dele. “Pai, eu tive um sonho muito ruim. Vamos no médico”. Ele não queria ir. Dizia que estava bem. Ele vinha de uma festa, estava meio alterado. Então, eu apelei: “Pai, olha o seu neto. Você não quer ver o seu neto crescer?Ele pegou o meu filho. “Dá o meu neto aqui. Aliás, neto não. Vem aqui com o titio, porque eu sou muito novo para ser avô”. Eu voltei a insistir na visita ao médico, mas ele respondeu: “Se eu morrer hoje, eu morro feliz.Conheci todos os lugares, tive todas as mulheres e fiz tudo o que eu quis. Mas eu não vou morrer agora porque eu vou ensinar o meu neto a jogar futebol”. Foi a última vez que conversamos. Ele não foi, mesmo, ao médico. Aconteceu alguns dias antes da morte de verdade. E ele morreu nos braços da minha tia Roseane. 
Fabiana Dantas Mendonça, 40 anos, filha de Jorge Mendonça.

A vida boêmia de Jorge Mendonça marcou seus filhos e deixou cicatrizes. Fabiana, a filha do meio, por exemplo, tinha pavor do futebol. “A maioria tem o sonho de ter um filho que jogue futebol. Quando o Rafael (seu filho de 11 anos) falava isso chegava a arrepiar. Logo pensava na questão da mulherada, na vida desregrada... Eu adorava quando papai fazia um gol, a torcida toda fanática por ele, a gente ia andando e o pessoal ia abraçando, beijando, e ele sempre correspondendo com todo o carinho. Mas é inerente do ser humano. Quando se fala de alguém, a primeira coisa que você lembra são as coisas ruins”, fala. Já Cristiano não bebe álcool.“Trauma tem dois lados. Um negativo e um positivo. Eu consegui assimilar algumas coisas. Por exemplo: eu não bebo, não gosto.

O terceiro irmão, Júnior, foi pelo outro lado: nunca teve um relacionamento sério. “Ele não fala para mim, mas faz parte do trauma. De tudo que ele viu do relacionamento do meu pai com a minha mãe.Cuida, fica sempre do lado dela. E isso é bom para gente. Mas ele não quer ninguém, nenhum relacionamento sério”, explica Cristiano.

Quando Jorge Mendonça morreu, aos 51 anos, todo o dinheiro que juntou quando jogava futebol já tinha desaparecido. Ele chegou a ser dono de casas em São Paulo e no Recife, mas aos poucos foi perdendo o dinheiro em investimentos.

“Ele era tão bom que chegava a ser ruim para ele mesmo. Algumas pessoas se aproveitaram da bondade e acabaram com ele”, conta Luciano Ramos, casado com Mariangela, irmã de Jorge. “Ele teve momentos de depressão, ficou desiludido com o futebol. Ele era muito humilde e tinha um coração de gigante, mas as pessoas se aproveitavam disso e ele perdeu muita coisa”.

Sem dinheiro, Jorge Mendonça morou, em seus últimos, na casa dos pais. Em 2006, sua mãe, dona Olga, já tinha morrido. Quem cuidou dele em seus últimos dias foi Roseane, sua irmã mais nova.

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