sábado, 22 de abril de 2017

UM SHOW DE BAIXARIA

Moro em Ilhéus há 25 anos, sempre na Cidade Nova, próximo ao Centro de Convenções e Concha Acústica.

E sempre vivi o desconforto, mesmo que temporário, do som alto dos shows nesses lugares, quando eu mesmo não o provoco, quando realizo show ali. Mas compreendendo, e espero ser compreendido, pois são os lugares propícios para tal fim, pela estrutura, localização e até segurança, mesmo necessitando de muitas melhorias.
Contudo, o que vivi numa noite de sábado este ano, graças a um show ocorrido na Concha Acústica me leva a uma reflexão e compartilho com todos: gritos dos piores palavrões, sem melodia, acompanhado de uma batucada sem harmonia, invadindo as residências de centenas de crianças, jovens, adultos e idosos, sem pedir licença, às 3 horas da madrugada - não mais incomodando pelo som, que já é esperado e volto a dizer, até compreendido, mas pelo desrespeito, ofensa e agressão verbal.
Não sei quem promoveu, mal lembro a banda que tocou, aliás, que ‘xingou’ por quase duas horas, depois de outra de arrocha, que para alguns apreciadores, até agrada mesmo em casa.
Sou um grande entusiasta dos eventos musicais, shows locais, regionais, nacionais, sertanejo, de pagode, axé, arrocha, clássica, rock, mpb, etc. Quanto mais, melhor para todos.
Acho que deve ser, sim, em locais como a Concha Acústica – foi feita pra isso, ou o estacionamento do Centro de Convenções – um improviso que deu certo; mas devemos estabelecer limites e a experiência recente do Aleluia Ilhéus mostrou isso: mais de 50 mil pessoas, de todas as idades, credos e faixas sociais, com os shows acabando à meia noite, talvez um pouco mais, e como resultado tivemos ocorrência zero da polícia, uma cidade feliz, turistas seguros e uma avalanche de elogios. E era aberto ao público.
O limite não é apenas em ter uma hora definida para encerrar. É limite de pessoas no espaço; limite de idade; limite às bandas de como se comportarão, o que executarão e como liderarão o espetáculo.
É um desserviço aos pais, aos professores, à família, às autoridades e principalmente à sociedade na sua totalidade, permitir que qualquer banda ou qualquer música, sem importar o conteúdo ou sentido, seja promovida e executada por achar que é disso que o povo gosta.
Ledo engano. O povo gosta de coisa boa, comida boa, casa boa, TV boa, meio de transporte bom, sofá novo, cama nova, livro bom, filho formado, salário digno e em dia, segurança, médico bom, viver bem e evoluir. Crescer. E por que a música, que também educa, tem de ser uma porcaria que ofende.
E que sai dos muros para entrar e ofender, nos lares de quem não pagou ingresso e tem de se submeter a isso.
Convivo muito bem com o som alto da Concha Acústica. Não apenas por promover shows também, mas convivo quando uma rua é fechada para uma festa popular, quando a luz é desligada para manutenção, quando fecham uma avenida para uma autoridade passar ou decretam greve por alguma causa, sem abuso, e atrapalham a vida de todos.
Convivo bem com pagode, samba, arrocha, gospel, rock e o melhor do jazz.
Mas não tem sentido para passar a noite ouvindo palavrões como B...P...C...e outras inimagináveis.
E o pior: nem música era.

  MARCO LESSA

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