terça-feira, 25 de novembro de 2014

Um mês após desparecimento, mãe de Davi Fiúza busca respostas: 'não posso ficar calada'

Um mês após desparecimento, mãe de Davi Fiúza busca respostas: 'não posso ficar calada'


Exatamente um mês após o desaparecimento de seu filho, Davi Fiúza, 16 anos, após ser abordado por policiais na localidade de Vila Verde, no Parque São Cristóvão, em Salvador, a mãe do jovem, Rute Fiúza, está longe da paz. “Eu não posso ficar calada quando estou sem ver meu filho há 30 dias”, protesta. Segundo o relato da família, Davi foi capturado na manhã do dia 24 de outubro por policiais militares que realizavam uma operação no local. De acordo com a mãe do rapaz, sem nenhuma justificativa, ele foi encapuzado, teve os pés amarrados e foi colocado no porta-malas de um veículo sem identificação oficial. O caso, que era investigado pela 12ª Delegacia Territorial (12ª DT/Itapuã), passou a ser responsabilidade do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Rute queixa-se do fato de não obter detalhes sobre o avanço das investigações. “Em nenhum momento eles assumem quem comandou; eles sabem, e ninguém fala, não fala nada”, diz. Enquanto não tem notícias do destino do filho, ela tenta ser ouvida em seus pedidos por mais informações. Nesta terça-feira (25), ela comparecerá à 1ª Conferência Internacional sobre Políticas Afirmativas para a Promoção da Igualdade Racial, que terá a presença da ministra Luiza Bairros, da Secretaria de Políticas e Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir). “Vou aproveitar para ver se consigo chamar atenção dela e levar o caso ao Ministério da Justiça. O caso dele não é único, tem muitos outros, e nenhum deles tem avanço, acabam no DHPP, esquecidos. Tem mais cinco mães que conheço e nenhuma tem notícias, todos os casos acabam assim”, aponta. Ela também irá ao Rio de Janeiro na próxima semana para prestar depoimento à ONG Anistia Internacional – o encontro seria nesta sexta-feira (28), mas foi adiado e deve ocorrer entre o dia 1º e o dia 5 de dezembro. Procurado pelo Bahia Notícias, o advogado de Rute, Luciano Andrade, falou sobre a importância da entidade tomar conhecimento do sumiço de Davi. “As organizações de direitos humanos vem apontado o genocídio de jovens negros, principalmente no Nordeste”, disse ele, em menção a casos como o do jovem Geovane Mascarenhas de Santana, que desapareceu após ser abordado por três policiais militares no dia 2 de agosto. Seu corpo foi decapitado, carbonizado e teve as tatuagens removidas com objetos cortantes. “A Anistia Internacional já estava de olho, é mais um que acontece isso, como o caso Geovane. Os olhos do mundo já estão se voltando para isso. Amarildo, Geovane, é mais um preto pobre... É como eu costumo dizer, são pretos pobres matando pobres pretos. Vão para o conflito na madrugada e depois pega o mesmo o ônibus pela manhã”,  afirma Andrade. Segundo o advogado, as poucas informações que obteve sobre o caso dão conta de que a principal hipótese é de que Davi trabalhasse para um traficante da região. “Querem colocar a vítima como usuário, que trabalhava com traficante da região. Ele tinha até uma debilidade mental, um retardo. Querem colocá-lo como perigoso. É recorrente quando alguém vai preso ou é morto dizer que é traficante. E se fosse? Justifica que a polícia continue matando, se é traficante pode morrer?”, argumenta.

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